Hoje queria escrever um poema sujo, de rimas porcas, de frases feias, de métrica torta, de palavras podres, só pra dizer que te amo.É,um poema parco do tamanho do pouco amor que mereço. Um amor de sobras,dos dias de inércia do gozo maior.Um amor que nem amor seria, salvo raríssimas exceções de sentimentos que perduram nos dias tristes.Queria escrever um poema contundente, forte, mas só consegui tirar de mim essas coisinhas miúdas, como é miúdo o tempo destinado a mim.Hoje quis tomar juizo. Mas tinha que ser na veia, em doses caseiras já não faz mais efeito.Quis muito te dizer, em forma de poema, mesmo que sujo e feio, do amor que sinto.,Amor posto de lado, pros dias de feriado.Isso quando o flamengo não jogar, é claro.Meu amor tem dia certo.Ou errado, nem sei.É nos dias que sobra, do amor que não teve.O dia do amor bandido, do escárnio da paixão que vive so na escuridão do sentimento que não pode ser e nem existir.Hoje eu quis fazer poema do que nem existe. Do que some quando se faz dias de lazer. Amor com data certa e todo errado, amor lacrado, sem ninguém ver.Amor trancado em copas, em paus.Hoje acordei pra cantar esse amor aos ventos, mas os ventos nem sopraram.Hoje acordei pra alardear esse amor, fazer escândalo, lavar com sãndalo o que fede a peixe.Amor que não merece vida, que so traz ferida e que so causa medo. Hoje eu quis fazer enredo pra essa valsa triste.Tentei de todo jeito escrever direito pra esse tema torpe. Tentei chamar de tudo esse silêncio mudo que você me brinda. Amanhã acordo bem., quando for quarta feira acaba a cegueira e posso ver além.Mas hoje tentei.Nem rimas consegui tirar do que sobrou de mim,e assim , fica esse texto com cara de raiva, com jeito de ódio , assim todo ruim.Mas a manifestação do artista mesmo que sem graça, é sempre como abrir a mordaça de um preso em estado terminal. Queria falar de amor,mesmo desse amor vendido,pobre e fétido, mas hoje não é dia. Hoje é dia da santa.Da certa, da que encanta. Amanhã te faço um poema lindo, com cara de amor novo,daquele que o povo todo diz...QUE AMOR!
(Márcia Cardoso)
Imagem: Pablo Picasso, Moça Diante do Espelho, c. 1932