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11 de out. de 2009

::: Camilla - Quarto Capitulo


Camilla - Quarto Capitulo

Yan segurou o rosto de Camilla entre as mãos e a beijou.
Naquele momento o tempo dançou levemente, flutuando pelo ar. Uma divertida e doce brisa sussurrava sorrateiramente nos ouvidos de Camilla. Parecia uma compassa sinfonia. Ela não sentia mais seu corpo, não sabia onde se encontrava, somente tinha a certeza de fazer parte de tudo aquilo. Aos poucos, como uma tímida lua, Camilla ia voltando a si, ainda meio transtornada com a realidade deturpada. Não entendia porque sentia aquilo com alguém que conhecera a tão pouco tempo, que horas atrás era um estranho e que agora conseguia preencher cada detalhe com sua presença. A garota foi corando e admirava Yan com seu profundo e obliquo olhar, até que sorrindo, disse:
- Posso te ligar mais tarde?
- Claro – disse Camilla decididamente.
Desceu do Chevette rapidamente, ainda meio extasiada pela situação ocorrida e quando chegou na portaria de seu apartamento, olhou para trás e disparou um magnífico sorriso que só ela era capaz. Yan buzinou e acelerou o carro, ainda acalentado pelos lábios irreverentes de Camilla. Mal sabia ela que a partir daquele momento havia entrado em um caminho sem voltas. Desconhecia todas suas vontades e desejos. Era guiada por anseios instintivos e singulares. Entregara-se sem saber os motivos, em menos de um dia perdera-se toda em um propósito. Ate ali nunca havia se permitido possuir essa liberdade própria, de deixar suas vontades alheias dominarem sua mente racional. Podia estar se precipitando, mas tinha certeza de que se não fizesse isso, seria pior.
Yan encontrava-se perplexo com o decorrer do dia que havia passado. Parou o carro num mirante próximo de onde se localizava e tentava decifrar suas emoções. A jovem menina conseguia enfeitiça-lo de algum jeito disforme. Sua inocência e fonte de pecados, sua leveza e peso de alma, sua espontaneidade e estilo. Tudo em uma perfeita cumplicidade entre si. Decidira ali, não sabia o que iria acontecer, mas não ia deixar passar alguém tão incomum, provocante e apaixonante. Tudo começou naquele dia que mais parecia uma bela poesia.
(Cinco meses depois...)
Camilla e Yan encontravam-se numa bela cidade histórica. Semanas atrás haviam combinado de passar o final de semana juntos em um lugar diferente. O local escolhido possuía um charme exótico, pela junção do antigo com o romântico que desvanecia no clima da cidadezinha. Depois de deixar as malas no hotel, resolveram dar um passeio para conhecê-la. Já era noite e fazia frio. Entre risadas e brincadeiras os dois pareciam bobos apaixonados. Camilla combinava perfeitamente com a cidade e Yan não escondia isso. A sedutora garota usava uma maquiagem forte, vestia um sobretudo de couro cor gelo, uma boina, cachecol e meia fina pretos e uma bota de bico fino, salto alto de couro preta também. Seu batom e suas unhas compridas vermelhos davam um contraste no visual. Yan estava com uma blusa preta de linho, calça jeans e all star preto. Os dois formavam um par comum, mas muito harmonioso e despertavam bastante atenção. Entre conversas altas Yan disse:
- Ai, ai amor... Como eu queria ficar sempre ao seu lado, sempre pertinho da minha namorada linda...
- Namorada? Que isso? Ah... Tipo você ainda é só meu ficante... - dizendo isso Camilla saiu correndo e rindo alto.
- Ah é? Ah é? Deixa eu te mostrar o que é ficante!
Yan pega Camilla no colo e sai correndo com ela nos braços.
_ Para! Para! Me desce Yan! Ta certo eu assumo, eu me rendo! Meu namorado! Meu só meu! Que amo muito!- disse Camilla aos gritos e risos olhando pra Yan.
Yan a beijou e recolocou Camilla no chão. Os dois saíram rindo e brincando nas ladeiras. Camilla lembrou-se com carinho do dia que foi pedida em namoro e recordou-se também do primeiro beijo entre eles. Depois daquele primeiro encontro se ligavam a toda hora e sempre saíam juntos. Foram se aproximando ate o dia que completaram um mês da data do primeiro beijo, quando Yan pediu Camilla em namoro. Estavam em um teatro e após assistir a uma emocionante peça, ele conversou com ela e fez o grande pedido. Camilla de propósito não respondeu de cara, deixando Yan ansioso, tenso e explodindo por dentro. Seus olhos aflitos refletiam tudo aquilo, seu coração estava acelerado, não sabia de onde tinha tirado tanta coragem para tal. Alias sabia sim era só olhar para Camilla para ter a resposta imediata. Ela não respondia a pergunta ate Yan dizer se ela queria lhe responder outro dia, pensar com calma. Foi quando ela lhe deu um beijo inesquecível, que respondeu todas as perguntas. Seus olhos encheram de água, tamanho sentimento verdadeiro que sentia... Recordações e recordações. Camilla admirava seu namorado com grande afeição, nunca tinha se sentindo sentimentalmente a doninha de ninguém, apesar de seus relacionamentos anteriores.
Voltando de suas lembranças, Camilla e Yan resolveram parar em um barzinho aconchegante, para tomarem vinho. Cinco meses atrás nenhum dos dois esperava que o destino fosse tão certo.
Cinco meses que se conheciam e quatro meses de namoro. Se pedissem a Camilla para descrever o que ela sentia ela não conseguiria definir. Nem se juntassem todas as palavras existentes expressariam o sentimento ali formado. Espontâneo, absoluto, abstrato. Logo ela que nunca permitira entregar-se por completo por medo de suas consequências avulsas e desconhecidas, resolvera deixar tudo de lado e simplesmente viver. Ela queria descobrir-se e reinventar-se todos os momentos. Queria recriar tudo para viver uma felicidade clandestina, nas fortes palavras de Clarice Lispector. Camilla lembrou de um trecho de um conto dela que lhe servia bem: “Fingia que não o tinha só para depois ter a surpresa e o susto de tê-lo. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que já ate pressentia, como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada”.
Voltando se suas reflexões, o casal degustava seu vinho tinto, com voz e violão tocando MPB ao vivo se fundo. O pub era todo rústico, feito integralmente de madeira talhada. Era um lugar aconchegante. Passado algum tempo voltaram ao hotel. Um pouco animados, devido a primeira viajem juntos, pela bebida e pelo ar da cidade tiveram sua primeira noite de amor. Tudo muito calmo e detalhado. Nenhum dos dois hesitara momento algum, apenas se deixaram levar. Yan paralisou ao ver Camilla nua, sua pele branca puro, quase transparente e macia, transbordava certa luz. Camilla era perfeita e hipnotizante, suas curvas delineadas, seu perfume, seu olhar... Tudo minuciosamente desenhado, inigualável. As mãos de Yan percorriam suavemente sobre seu corpo, enquanto a garota se entregava totalmente para aquele que tinha certeza seria o dono de sua historia. A noite foi inesquecível, assim como todos os momentos que passavam juntos. Guiados sempre pela batida única e compassada de seus corações. O poder de Camilla era incomparável, poderia construir um império com um simples olhar. Yan não sabia mais como controlar-se. A menina mulher era sua. Somente sua.
Ah Camilla, Camilla... Mal sabia Yan o que lhe aguardava...
(Continua...)

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..:gUh:..